Para casa eu não quero voltar
O telefone parou de tocar faz um ano, pelo menos quando o assunto é chamá-lo para maquiar alguém em uma sessão fotográfica. Seu amigo e colega de serviço, ou ex-colega, Chico Audi, não o chama mais para pintar o rosto de suas e seus clientes. Nem a agência o chama mais. As tintas secam, os algodões ficam empoeirados, os pincéis e lápis estão guardados. Um portfólio descansa no topo de um armário, com os trabalhos dele e toda a poeira que a crise trouxe.. Ser maquiador parece que vai ser para depois, porque agora, simplesmente, não chega trabalho. A vida não anda para nenhuma direção.
A virada de 2015 para 2016 foi estranha. Achou que não receberia esse convite com 55 anos de idade. Então em dezembro estava com a família, em Brasília. No apartamento mal cabiam ele, os três irmãos, a mãe e a presença do espectro do falecido pai. Foi entre um brinde e outro que a mãe ventilou a cabeça do filho e disse:
“Ah, meu filho, se está tão difícil, volta.”
A volta seria um passo para trás, ainda mais para quem acredita que a cada dia deve-se melhorar, seguir em frente, tornar vícios em virtudes. Ele não quer voltar, não depois de tanto tempo fora. 21 um anos fora não o fazem querer voltar, mas essa falta de vontade não vem de alguma crise familiar, pelo contrário. A família sempre deu certo, sempre foi unida. Até chegar em Brasília, passaram juntos por Feira de Santana, Vitória da Conquista, Canavieiras, Sergipe, Aracaju, São José dos Campos e enfim Brasília.Se mudavam de dois em dois anos, tudo isso por causa do emprego do pai - bancário que visava chegar ao cargo de Diretor Geral do Banco do Brasil em Brasília. A família só começou a se separar e ir cada um para um canto, quando o pai faleceu. Nessa época, ele veio para São Paulo e seu irmão para o Rio de Janeiro, a mãe, a irmã e o outro irmão permanecem em Brasília.
Antes de vir para São Paulo, torou-se maquiador formado pelo Senac. Morrou sozinho ainda na cidade projetada por Oscar Niemeyer, enquanto trabalhava em um salão de beleza. Quando veio visitar um amigo na capital paulista, logo decidiu que ficaria. Em menos de uma semana arranjou emprego em uma agência de fotografia, a mesma que hoje não liga mais para ele.
Porém como poderia se manter em uma cidade grande durante uma crise econômica? Há mais de 20 anos estava em São Paulo quando a crise atingiu-o. A fome as vezes vinha bater à porta sem pedir licença, o poderia espantar essa visita não convidada era o dinheiro que a mãe enviava, mas que muitas vezes ia para o aluguel. Precisa de mais dinheiro, de dinheiro próprio, não dos outros. E foi na fome que achou a saída!
Depois de tantos anos longe da Bahia, Estado natal, foi nas raízes que achou uma nova chance de estruturar-se, um meio de se sustentar fazendo o que gosta. Acarajé! Essa era a solução. O baiano largou o rosto de modelos para assumir o fogão. Mas tem um problema que está atrapalhando-o a gerar renda totalmente da comida apimentada da terra natal, trabalha sozinho. Só ele não dá conta de cozinhar, empacotar, entregar, distribuir panfletos e etc. Agora, Marcelo, o personagem desse texto, está à procura de alguém para ajudá-lo, ou até mesmo para ser sócio na empreitada do Acarajé. Se tudo der certo, sonha em ter um restaurante de culinária exclusivamente baiana, explorando além do acarajé, mas até lá procura alguém para apimentar os negócios.