Para uma nova relação entre sociedade e universidade
O que se produz nas universidades hoje em dia? Nas particulares, após anos pagando uma mensalidade exorbitante, o recém-formado se joga no mercado de trabalho, onde aplicará todo sua sabedoria universitária. A universidade produziu um trabalhador que só quer juntar todo dinheiro depositado na instituição de ensino durante anos. Já nas públicas, os alunos ralam para estudar em meio a greves, a falta de infraestrutura, de material, de professores, mas a erudição deve ser alcançada de algum jeito, como? Não se sabe, o aluno que descubra. Então, esta instituição de ensino público produz jovens “que sabem se virar”. No geral, as universidades brasileiras podem ser caracterizadas como produtivistas e não produtivas.
A diferença entre essas duas palavras passa a questão de letras, e avança para uma questão arcaica, herdada da Revolução Industrial Inglesa, na qual a ideia principal era produzir ao máximo, sem se importar com a qualidade final do produto, acumulado num estoque, fadado ao lixo e abandono. Assim acontece com os jovens brasileiros. As universidades não visam educar alunos para maximizar o aprendizado deles, para que, uma vez formados, possam entrar no mercado de trabalho para retribuir à sociedade tudo aquilo que lhes foi oferecido. Essas visam, principalmente as “uni-esquinas”, ter o máximo de alunos, arrecadar o máximo de dinheiro e gastar o mínimo com o ensino dos jovens. Querem mais, ao final do curso, entregar um papel com os dizeres de que aquele aluno está apto para realizar as tarefas que treinou durante anos. Mas a verdade é que esse recém-formado será convidado para milhares de entrevistas de emprego, passará pelas infinitas fases propostas pelo contratante, mas será abandonado e estocado em algum grande banco de dados dessas empresas, e nunca mais receberá uma resposta, nem de “sim”, nem de “não”. Uma pesquisa feta pela consultoria multinacional McKinsey & Company e divulgada pela Confederação Nacional da Indústria e pelo movimento Todos pela Educação: “Educação para o trabalho: desenhando um sistema que funcione”, mostra que 48% das empresas deixam de contratar recém-formados, pois falta capacitação destes. Aí está a prova de que as universidades são produtivistas e não produtivas.
Mas a ideia da existência das “uni-esquinas” é ótima, pois querendo ou não pode ser o único acesso de muitos jovens às universidades. Porém o problema é a lógica capitalista de lucro aplicada nelas, o lado humano é deixado para trás e o cifrão faz a cabeça dos sócios dessas instituições de ensino.
Para que isso termine, os órgãos públicos que rotulam uma universidade como “boa”, ou “ruim”, devem usar novos métodos de avaliação. Não apenas aplicar provas para testar o ensino e a decoreba do aluno, mas sim testá-lo fora da universidade, já no mercado de trabalho, já na aplicação da inteligência adquirida por pelo menos 4 anos de estudos. A avaliação deve ser feita pelo retorno que o formado deu à sociedade. Só com essas e outras mudanças, o mundo universitário alcançará um novo patamar, uma nova relação entre sociedade e ensino superior.