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Quanto vale? Depende da mão de quem segura...


Fria. Fina. Circular. Alguns detalhes em relevo. Letras, números gravados em suas superfícies. A luz que bate nela faz com que brilhe. Com a mão fechada o pequeno objeto desaparece do olhar dos outros e do meu, apenas sinto o gelado metal.



“Brasil”, ela leva escrita em uma das superfícies. Acima da inscrição está o rosto da República, uma mulher de olhar sereno, olhando para frente, pra um Brasil que ainda não deve ser o que ela esperava quando estampada no duro aço. Imagino que não ansiava por um país que sediasse as Olimpíadas e as corrupções que assolam nosso governo, ela ainda olha para frente, aguardando o futuro tranquilo que brilha nos seus olhos metálicos. Ramos de louro acompanham a República. Diz o mito que Apolo - deus grego - passou a usar uma coroa de ramos de louro quando Dafne, ninfa por quem se apaixonou, se transformou em um pé da planta para fugir do deus. Ele decidiu que sua amada o acompanharia para o resto de sua vida divina e que seria símbolo de seus triunfos, assim como dos heróis da Grécia Antiga. O que penso é como decidiram colocar o louro ao lado da República, qual foi o triunfo econômico brasileiro que concedeu o louro de Apolo à moeda? Talvez tenha sido a vitória do Real depois de péssimas tentativas para a criação e fixação de uma moeda nacional. Mas sem dúvida este louro em relevo não tem o mesmo valor do louro grego, que representava a glória eterna para o militar, para o atleta e até para a cidade natal desses heróis.




“1997” está gravado do outro lado, dois anos a menos que eu, será que passamos pelas mesmas coisas? Fomos aos mesmos lugares? E mais, será que já segurei essa pequena antes? Difícil saber… Se fosse entrar nessa ideia iria longe… Aonde vão minhas moedas? Para os ônibus e metrôs que me levam pela cidade. Para comidas que eu tenho o privilégio de comprar e encher minha barriga que ronca vazia, mas logo se cala. Para o caixa de bares que molham minha garganta seca. Para as bancas onde compro chicletes que tiram o gosto amargo de sapos que engoli. Para entradas de festas lotadas de pessoas e de moedas sem valor. Para o chão, quando minha mão furada deixa-a escorregar pelos dedos e ficar para trás, enquanto meus passos apressados seguem caminho. Para biqueiras que vendem descanso para a cabeça e para almas inquietas, ou para livrarias que - muito parecidas com essas bocas - vendem descanso para a cabeça e para a alma. Ou chegam nas mãos estendidas pelas calçadas: mãos sem rostos, sem cobertor, apenas com vozes que repetem salmos diários e empenhados em conseguir um pequeno valor para os que têm em excesso e uma riqueza inestimável para aqueles que estão com os pés descalços não por opção.

Seu valor? “10 CENTAVOS”, dizem os caracteres encravados no ferro inflexível. Mas quanto é 10 centavos? São duas balas de canela, o inteirar de um almoço que não é ingerido há dias, ou de uma pinga para aquecer o corpo quase nu, coberto de roupas finas e rasgadas pelos olhares esnobes e afiados que não abrem mão de míseros (para os esnobes) 10 centavos para quem os pede por necessidade. 10 centavos são 10 centavos e ponto, mas dependendo de quem o segura esse valor pode ser bem mais do que 10 centavos.

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